"...a felicidade humana não parece ter sido incluída no projeto da Criação."





Michelangelo - A Criação Do Homem(Deus na forma Humana)



"Durante toda nossa vida, enfrentamos decisões penosas... escolhas morais. Algumas delas tem grande peso. A maioria não tem tanto valor assim. Mas definimos a nós mesmos pelas escolhas que fizemos. Na verdade, somos feitos da soma total das nossas escolhas. Tudo se dá de maneira tão imprevisível... tão injusta que a felicidade humana não parece ter sido incluída no projeto da Criação. Somos nos com nossa capacidade de amar que atribuímos um sentido a um Universo indiferente. Assim mesmo a maioria dos seres humanos parece ter a habilidade de continuar lutando e até de encontrar prazer nas coisas simples como sua familia, seu trabalho e na esperança que as futuras gerações alcancem uma compreensão maior." (em uma revista de filosofia qualquer, jogada pela minhas coisas)


                           Bach - Christiane Jacottet, cravo Variações Goldberg (variação 23)

L'amour est un oiseau rebelle ... Carmen (avec coeur)

Tive um sonho, meio maluco com essa música hoje, acordei com ela na cabeça, não sei o significado deste sonho que tive, mas gosto muito dessa parte. alias qualquer devaneio sobre o amor me atrai, contado ou declamado, e essa é histórica, Bizet marcou o mundo com essa parte.
escolhi cantada pela Maria Callas, que acho linda interpretação.




Carmen (avec coeur)                                              Carmen (com ardor)

L'amour est un oiseau rebelle                                  O amor é um pássaro rebelde
Que nul ne peut apprivoiser,                                   que ninguém pode aprisionar
Et c'est bien en vain qu'on l'appelle                          e que não adianta chamar
S'il lui convient de refuser.                                       se a ele convém recusar.
Rien n'y fait, menace ou prière,                               De nada valem ameaças e pedidos,
L'un parle bien, l'austre se tait;                                dizer coisas bonitas ou se calar,
Et c'est l'autre que je préfère                                   se eu preferir um outro
il n'a rien dit, mais il me plaît.                                   ele nada me diz, e é dele que gosto.
L'amour... l'amour...                                               O amor... o amor...
L'amour est enfant de Bohême,                               O amor é um menino cigano,
il n'a jamais connu de loi                                         que nunca conheceu qualquer lei;
Si tu ne m'aimes pas, je t'aime;                                se você não me ama, eu te amo; e seu te
Si je t'aime, prends garde à toi!...                            amo, toma cuidado!...
L'oiseau que tu crovais surprendre                          O pássaro que você acreditava surpreender
Battit de l'aile et s'envola...                                      bateu as asas e voou...
L'amour est loin, tu peux l'attendre;                         O amor está longe, você pode esperar;
Tu ne l'attends plus, il est là!                                   você não espera, ,ele está ai...
Tout autour de toi, vite, vite,                                   Tudo à tua volta, rápido, rápido,
Il vient, s'en va, puis il revient...                               ele vem, ele vai, e logo volta...
Tu crois le tenir, il t'évite,                                        Se você pensa ter agarrado o amor, ele te
Tu veux l'éviter, il te tient.                                       evita, e se pensa evitar, ele te prende.
L'amour, l'amour...                                                 O amor... o amor...

Cântico Negro


Esse poema, foi me mostrado pela Muriel, amante da literatura e poesia como eu, afinidade que nos permite compartilhar o que de verdade é muito tocante. Obrigado pelo presente Muriel, desconhecia tal autor, que agora me interesso mais pela sua obra!


     
    Cântico negro

"Vem por aqui" — dizem-me alguns com os olhos doces
Estendendo-me os braços, e seguros
De que seria bom que eu os ouvisse
Quando me dizem: "vem por aqui!"
Eu olho-os com olhos lassos,
(Há, nos olhos meus, ironias e cansaços)
E cruzo os braços,
E nunca vou por ali...
A minha glória é esta:
Criar desumanidades!
Não acompanhar ninguém.
— Que eu vivo com o mesmo sem-vontade
Com que rasguei o ventre à minha mãe
Não, não vou por aí! Só vou por onde
Me levam meus próprios passos...
Se ao que busco saber nenhum de vós responde

Por que me repetis: "vem por aqui!"?

Prefiro escorregar nos becos lamacentos,
Redemoinhar aos ventos,
Como farrapos, arrastar os pés sangrentos,
A ir por aí...
Se vim ao mundo, foi
Só para desflorar florestas virgens,
E desenhar meus próprios pés na areia inexplorada!
O mais que faço não vale nada.

Como, pois, sereis vós
Que me dareis impulsos, ferramentas e coragem
Para eu derrubar os meus obstáculos?...
Corre, nas vossas veias, sangue velho dos avós,
E vós amais o que é fácil!
Eu amo o Longe e a Miragem,
Amo os abismos, as torrentes, os desertos...

Ide! Tendes estradas,
Tendes jardins, tendes canteiros,
Tendes pátria, tendes tetos,
E tendes regras, e tratados, e filósofos, e sábios...
Eu tenho a minha Loucura !
Levanto-a, como um facho, a arder na noite escura,
E sinto espuma, e sangue, e cânticos nos lábios...
Deus e o Diabo é que guiam, mais ninguém!
Todos tiveram pai, todos tiveram mãe;
Mas eu, que nunca principio nem acabo,
Nasci do amor que há entre Deus e o Diabo.

Ah, que ninguém me dê piedosas intenções,
Ninguém me peça definições!
Ninguém me diga: "vem por aqui"!
A minha vida é um vendaval que se soltou,
É uma onda que se alevantou,
É um átomo a mais que se animou...
Não sei por onde vou,
Não sei para onde vou
Sei que não vou por aí!

José Régio


                                                    Jacob wrestling with the Angel ; Gustave DORÉ; 1865


José Régiopseudônimo literário de José Maria dos Reis Pereira, nasceu em Vila do Conde em 1901. Licenciado em Letras em Coimbra, ensinou durante mais de 30 anos no Liceu de Portalegre. Foi um dos fundadores da revista "Presença", e o seu principal animador. Romancista, dramaturgo, ensaísta e crítico, foi, no entanto, como poeta. que primeiramente se impôs e a mais larga audiência depois atingiu. Com o livro de estréia — "Poemas de Deus e do Diabo" (1925) — apresentou quase todo o elenco dos temas que viria a desenvolver nas obras posteriores: os conflitos entre Deus e o Homem, o espírito e a carne, o indivíduo e a sociedade, a consciência da frustração de todo o amor humano, o orgulhoso recurso à solidão, a problemática da sinceridade e do logro perante os outros e perante a si mesmos.

O inicio

Queria começar pelo meu preferido, o homem que se aprofundou nas obscuras incertezas da natureza humana, e de uma forma delicada, nos traduziu com impeto e volúpia, os tempestuosos labirintos do ser!


      Surrealismo - Vladimir Kush




"...Acontece com o futuro o mesmo que com as coisas que estão longe. Um imenso obscuro horizonte se estende diante de nossa alma; perdem se neles os nossos sentimentos, bem como os nossos olhares, e ardemos, sim ! Do desejo de dar tudo o que somos para saborear plenamente as delícias de uma sentimento único, enorme, sublime... E quando chegamos lá, quando o distante se tornou aqui, tudo é o mesmo que antes continuamos na miséria, na nossa esfera restrita, e a nossa alma suspira pela aventura que lhe escapou."
J. W. Goethe - Sofrimentos do Jovem Werther